sábado, 19 de março de 2011

William E. Henley: "Invictus"


Este é o poema do britânico William E. Henley, de onde o sábio Nelson Mandela conseguiu forças para suportar as longas décadas de prisão na África do Sul.

O poema, hoje famosíssimo, foi muito bem utilizado no filme homônimo, dirigido em 2009 por Clint Eastwood.

Principalmente os versos finais sempre hão de ser um hino de superação diante dos revezes e dos desafios, momentos em que temos a chance de nos conectarmos com o Transcendente, com a Presença incogniscível, porém Viva, a partir da qual compreendemos a nossa grandeza, que nos ergue a cabeça, prontifica nossas asas para que prossigamos a planos mais elevados.

"Invictus"

Out of the night that covers me,
Black as the pit from pole to pole,
I thank whatever gods may be
For my unconquerable soul.

In the fell clutch of circumstance
I have not winced nor cried aloud.
Under the bludgeonings of chance
My head is bloody, but unbowed.

Beyond this place of wrath and tears
Looms but the Horror of the shade,
And yet the menace of the years
Finds and shall find me unafraid.

It matters not how strait the gate,
How charged with punishments the scroll,
I am the master of my fate:
I am the captain of my soul.

(escrito em 1875, publicado em Book of Verses, 1888)

William Ernest Henley (1849-1903)

__________

Na tentativa de traduzir esses versos, fiz o que pude para me aproximar do texto original, mas com alguma liberdade estética, visando a musicalidade de nosso idioma. Na transcrição, para que permanecessem o sentido do poema e o estilo do autor, não foi possível manter rima e métrica, infelizmente.

Da noite que me cobre,
Negra como um poço de polo a polo,
Agradeço os deuses, quaisquer que possam ser,
Por minha alma invencível.

Na garra cruel da circunstância
Eu não estremeci nem chorei alto.
Sob os golpes do acaso
Minha cabeça está em sangue, mas não abatida.

Além deste lugar de ira e lágrimas
Assoma o horror na sombra,
E ainda assim a ameaça dos anos
Me encontra e me encontrará sem medo.

Não importa quão estreito o portão,
Quão cheio de castigos o pergaminho.
Eu sou o mestre de meu destino:  
Eu sou o capitão de minha alma.



sábado, 12 de março de 2011

Mandú-Çarará: Roberto Tibiriçá rege Villa-Lobos na Venezuela


Novamente o brilhante maestro Roberto Tibiriçá nos proporciona valiosos momentos de satisfação artística. Sem qualquer dúvida, o alto nível de interpretação que Tibiriçá vem demonstrando o torna um dos maiores regentes brasileiros da atualidade. Em 2010, no IV Festival Villa-Lobos em Caracas, Venezuela, a sua presença foi um sucesso, quando apresentou, entre outras peças, a fantasia Momoprecoce, com Cristina Ortiz ao piano. 

E no último 30 de janeiro, na Sala Simón Bolívar, em Caracas, Roberto Tibiriçá regeu uma das grandes obras de nosso mestre Villa-Lobos. Nada menos do que o bailado-cantata Mandú-Çarará, para coro e orquestra, uma de minhas preferidas em toda a vasta produção villalobiana, e pouco gravada, injustamente, já que se encontra no mesmo nível de outros bailados como Amazonas e o Uirapurú

Eis a leitura do maestro Tibiriçá, realçando as melodias indígenas repletas de verve rítmica que tão bem caracterizam a obra! Recomendo muitíssimo o vídeo abaixo, gravado ao vivo com a Sinfónica de la Juventud Venezolana ‘Simon Bolívar’ e o Sistema Nacional de Coros FESNOJIV.



Villa-Lobos por Tibiriçá



Importantes obras de Villa-Lobos na regência de Roberto Tibiriçá, 
algumas gravações gentilmente cedidas pelo maestro a este blog:

Sinfonia No. 4 “A Vitória”, para orquestra (1919) [2011]
Choros No. 9, para orquestra (1929) [2010]
Mandú-Çarará, para coro e orquestra (1940) ** [2011]

Sinfónica de la Juventud Venezolana “Simon Bolívar”
Sistema Nacional de Coros FESNOJIV **
Roberto Tibiriçá, regente

Download MP3:
VillaLobos.Sinfonia4-Choros9-ManduCarara.Tibirica.zip

Momoprecoce, fantasia para piano e orquestra (1929) [2010]
Cristina Ortiz, piano
Sinfónica de la Juventud Venezolana “Simon Bolívar”


Bachianas Brasileiras No. 3, para piano e orquestra (1938)
Linda Bustani, piano
Orquestra Sinfônica Petrobrás Pró Música

Concerto para Piano e Orquestra No. 5 (1954) [1993]
Vera Astrachan, piano
OSESP: Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo

Roberto Tibiriçá, regente

Download MP3:


terça-feira, 8 de março de 2011

Renascença na Inglaterra: Música Instrumental de Byrd e Dowland


Esta postagem é para os amantes da música da Renascença. O virginal muselar e o alaúde utilizados nestas gravações foram construídos rigorosamente a partir de modelos do século XVI e início do século XVII.

E, evidentemente, destina-se também aos interessados em conhecer a música desse fascinante período, além da virtual oportunidade de ouvir dois excelentes instrumentistas: Davitt Moroney e Paul O'Dette.

Para quem não conhece, é importante dizer que William Byrd e John Dowland foram dois dos maiores compositores da Era Elizabetana, contemporâneos de William Shakespeare, o genial dramaturgo.

William Byrd foi exímio organista e genial compositor polifonista, cuja obra coral para a liturgia anglicana - services, anthems, etc - era ouvida com admiração na capela real. Mas, por ser católico, talvez as suas peças mais belas sejam as missas e os motetos, que escrevia para as capelas particulares de nobres ricos. John Dowland foi um menestrel: cantor e mestre do alaúde, famoso em toda a Europa. Suas canções eram as favoritas da corte de Elizabeth I, embora jamais tenha conseguido nessa mesma corte o tão almejado cargo de alaudista.

Byrd e Dowland também escreveram música instrumental de grande valor. A pavan era uma das mais nobres danças do século XVI, de ritmo binário e andamento moderado, quase sempre seguida por outra dança mais viva, a galliard. Essas peças atravessaram os séculos e chegaram até os nossos dias, incorporando-se ao repertório dos recitais, a partir da revitalização da música renascentista e barroca. Pela qualidade artística e pelo rigor arqueológico, a obra desses compositores continua viva entre nós, apesar dos quatro séculos que nos separam.


O virginal muselar é um instrumento da família do cravo, um avô do piano moderno, díriamos. Difere do cravo por ser menor e pela colocação do teclado: à direita, e mais frequentemente no meio da caixa, de forma que as cordas são beliscadas no centro, o que lhe dá uma sonoridade mais abafada e quente. No século XVIII o virginal já era anacrônico, devido à evolução de outros modelos do cravo dos quais originou o piano-forte.

O alaúde, descendente talvez de um antigo instrumento persa ou árabe, tem a caixa em forma de meia pera. O seu conjunto de cordas, ao ser dedilhado ou palhetado, expande-se em belos timbres. Foi muito utilizado durante mais de três séculos até cair no esquecimento.

Esses dois instrumentos soam-nos hoje com alguma estranheza. Dessa forma, o antigo torna-se moderno, é sensação nova diante de uma delicada beleza.



John Dowland (1563-1626) por Paul O’Dette


em Alaúde construído por Paul Thomson, Londres, 1984,
baseado em modelo Magno Tieffenbrucker, de 1550
.


















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William Byrd (1543-1623) por Davitt Moroney

em Virginal Muselar, construído por John Phillips,
1991, a partir de instrumento flamengo de 1679.

















Download - Baixar:Byrd.DavittMoroney.zip